sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Realidade

"Tenho felicidade, mas nunca a felicidade completa. Habita em mim um sofrimento agudo, confuso e profundo que nunca me abandona. Aos vinte anos, desejei escrever um livro sublime; hoje, contento-me com um bom livro, apenas. Porque esse livro,[...] trago-o cá dentro.
O trabalho do escritor é o único que amo verdadeiramente e é também o único que não conseguirei realizar. Tudo me distrai, tudo me chama, e disperso-me. Ambiciono a glória futura, mas não tenho ambições cotidianas. As coisas bem depressa me cansam. Gosto de todos e não gosto de ninguém, amo a chuva e o bom tempo, a cidade e o campo. Conservo no fundo da alma a nostalgia do bem, da honra e das leis com as quais nunca me importei.
Embora aborrecido com a minha má reputação, tenho a fraqueza de extrair vaidade dela. O que me incomoda é o fato de não ser totalmente entregue ao vício, de ser generoso até a extravagância, aliás, por covardia, na maior parte das vezes; nunca ter fingido ser semi virtuoso, isto é, ser como todo mundo, no fundo; de preferir maus rapazes a hipócritas que simulam ser honestos quando apenas o são um pouco mais do que eu. Não me amo, mas me quero bem."

Raphäel Mahl

Extraído do livro A Bicicleta Azul de Régine Deforges

Ao som de Engenheiros do Hawaí - Pra ser Sincero

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